domingo, 21 de novembro de 2010

MÁQUINA DO TEMPO





O sono é que me consome! Não tenho condições de me recuperar.
Quero livrar-me desse vazio, dessa dormência
Quero me fazer esquecer o que jamais poderia.
Quero entrar num buraco escuro e dormir
por apenas um segundo para acordar em outra dimensão,
recuperar o que foi perdido. Quero ver as coisas como
se fosse a primeira vez, quero voltar à inocência
resgatar a infância, a essência, a beleza.
E quando chegar à adolescência fazer tudo de novo, sem reservas,
lembrar de errar sem querer  corrigir, esquecer o pudor,
extravasar e exagerar, mas consciente de que
continuo nesse espaço que agora se torna mais habitável.
Quero estar a frente num mundo só meu, adquirido
sem muito esforço, apenas com fantasias.
E enfim, numa bela paisagem com canto de pássaros,
cheiro de mato, barulho de  vento  ensimesmar-me
 podendo respirar tranquilamente e num último suspiro
esvaziar-me, descansar  e sem pensar em mais nada
abandonar-me completamente.

sábado, 13 de novembro de 2010

ENCONTRO




Tua face agora se cala, a brisa do mar lhe trás a paz,
 num compasso perfeito teu corpo ansioso se acalma,
o mar e a brisa te levam a um cais,       
são lembranças amargas que lhe vêem a memória.
Repentinamente anseia por “paz”,
a paz que te persegue e te engana.
Mas nem tenta livrar-se dela que te absorve
e o converte em outro ser,                                       
levando-o  a uma batalha contra
o seu estado  neurastenizante.
Por ora sente-se leviano, outrora arcanjo,
ora águia, ora libélula.                                        
A  solidão lhe torna insensato,  
mas a compaixão lhe aproxima da santidade.
Então sente necessidade de voar alto
para ficar distante do passado.
Sente-se frágil, assim como a lavadeira
com quem brincava quando criança  
e  ficava triste quando ela tinha que ir embora.
Olha então o mar e sente vontade de mergulhar
Mas num mergulho profundo lembra-se
de que nem sabe nadar  e então consegue recuar. 
Começa então a observar o céu, as nuvens
e tudo que está em volta,
sente-se o mais importante simplesmente
por viver esse instante de contemplação.
Se engrandece com a beleza do mar,
então se reanima e caminha em direção
 a estas águas que o  leva ao ponto mais alto,
ajudando a encontrar a paz
e quando lá em cima estiver, voará,
não mais como águia, mas sim como libélula,
sem pressa, sem medo.
E enfim, segue  um novo caminho, voa,
canta e brinca e nessa viagem fantástica desvenda
o seus mais belos mistérios.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

DESCOMPASSO





Sou um gigante, sinto-me maior, entre os menores não me encontro, entre as  raças tenho a pele mais bonita, o preto é minha cor.
Sinto-me como águia pronto para voar sobre as montanhas, celebrando a liberdade dos que por medo não ousam voar. Sou o vento, sou mar, sou terra, sou o ar, sou aquele precisando amar, amar a selva, os bichos, buscando um novo mundo para habitar. Bebo de minha língua para não ofender, como de tua carne para não me aborrecer, livro-me das vozes para não enlouquecer. Tenho milhões de desejos, mas não tenho medo de arriscar, sou como um palhaço de cara pintada para não me mostrar, sou uma criança com desculpa para brincar. Ora  sou livre, ora prisioneiro, mas corro as estradas parado no  tempo feito lesma molhada fugindo da  chuva. Temo a morte fingindo ser forte, evito chorar para não me lembrar das batalhas que enfrentei e das lembranças que criei só para não esquecer das tristezas que já apaguei.

Angela 

CEGUEIRA

Enquanto tu te escondes por ai, mundo afora, sonhando, pensando, vivendo sem viver de fato, o “belo” permanece lá, no mesmo lugar, aos olhos do ingrato, mas que para ser visto precisa ser esquadrinhado, não se trata apenas de um olhar efêmero, é preciso uma vida inteira para enxergar. Tu que desprezas constantemente com esse olhar, não olha, não vê, não enxerga. Ingênuo! Não se dedica a um olhar sensato, correto, exato de quem quer ver.  Muros altos estão diante deste olhar que se perde , se esconde onde não deve,  bebes de fontes erradas, desgraçada  cegueira  que o leva  a sujeira e não o deixa em paz.  Esses muros não consentem o encontro com o “belo”,  o singelo,  mas com o escuro,  o  abstruso que  o impede de olhar a diante e ver simplesmente o que necessitas.  Andaste por onde andas, vagando, perambulando, desencontrando-se.   Olhaste em outras direções, sem correções, vagões não o deixa ver, te conduz, te seduz a não ver a luz. Atos insensatos, inaptos, sem tato, fere a própria alma. Se acalma, se mostre, se proste ao invés de tentar subir de uma só vez os muitos degraus desta jornada.  Se encaixe, relaxe, por onde a vida quiser te levar, permita-se, dedique-se, saia de si, do seu “eu”, entre numa nova dimensão, sintonize na estação, encontre uma condição de uma só vez.  Maldita insensatez!   Sem que teus olhos vejam calam a tua voz, nega tua identidade, tiraram-lhe a vaidade, adormece lentamente, adoece tentando ver a diante. Tarde demais! Não há mais tempo, seus olhos já não mais te pertencem.